No dia 25 de maio, presidentes de federações estaduais e clubes das Séries A e B vão às urnas para escolher o novo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e seus oito vice-presidentes para o mandato de 2025 a 2029. Apesar de ser pouco conhecido no cenário nacional, o único candidato é Samir Xaud, médico de 41 anos e atual presidente da Federação de Futebol de Roraima.
A candidatura de Samir, até então uma figura discreta do futebol nacional, causou espanto e curiosidade. O nome dele atingiu pico de buscas no Google Trends logo após o anúncio oficial da chapa. Mas quem é Samir Xaud? E por que ele se tornou o escolhido das federações?
A articulação para a candidatura de Samir começou nos bastidores, em um grupo paralelo de WhatsApp criado por dirigentes de federações estaduais, num contexto de tensão e desconfiança durante a gestão do atual presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. O grupo, apelidado de “Bonde do Samir”, foi formado durante a Copa América nos Estados Unidos, em 2023, e servia tanto para encontros informais quanto para conversas sobre política e estratégias de poder na entidade.
Ricardo Gluck Paul, presidente da Federação Paraense de Futebol e um dos líderes do movimento, é apontado como articulador da candidatura. Segundo ele, a ideia era encontrar um nome novo, capaz de romper com o que chamou de “caricatura do presidente da CBF” e dar uma imagem mais proativa e agregadora à entidade.
Apoio das federações, rejeição dos clubes
Apesar do apoio quase unânime das federações, Samir enfrenta forte resistência de clubes das Séries A e B. Um grupo de 21 agremiações já anunciou que não participará da eleição, em protesto contra o processo considerado pouco transparente e pela falta de diálogo com os clubes.
Os dirigentes das federações alegam que a pressa em lançar a candidatura foi necessária para evitar uma possível reversão de Ednaldo Rodrigues no comando da CBF, algo que já ocorreu anteriormente. Segundo eles, envolver os clubes no debate poderia atrasar o processo e inviabilizar a chapa.
Denúncias e polêmicas
Com o nome em evidência, Samir Xaud também passou a ser alvo de reportagens investigativas. Em 2021, foi revelado que sua clínica médica havia prestado serviços para a CBF durante a gestão de Ednaldo Rodrigues, o que era vedado pelo estatuto da entidade.
Além disso, Samir já foi afastado do cargo de perito do Tribunal de Justiça de Roraima, em 2020, por suspeita de erro médico, e responde a uma ação do Ministério Público local por suposto envolvimento em esquema de falsificação de documentos durante sua gestão no Hospital Geral de Roraima, o que teria gerado prejuízo de R$ 1,4 milhão. Ele nega todas as acusações e afirma que são “fake news”.
O site UOL também revelou que Samir tentou regularizar uma fazenda de mais de 1.300 hectares em uma área de proteção ambiental. Ele nega a acusação. Apesar das denúncias, os presidentes das federações têm saído em defesa de Samir, criticando o que consideram um “linchamento público”.
Pressões e clima de medo na CBF
As críticas à gestão de Ednaldo Rodrigues são duras. Os dirigentes relatam um ambiente de “fábrica de assédio”, com perseguições internas, falta de autonomia dos colaboradores e até suspeitas de escutas em salas de reuniões.
A ausência de diálogo com os clubes tem sido um dos pontos mais criticados. Nomes como o ex-jogador Ronaldo Fenômeno, que já cogitou se candidatar à presidência, criticaram o processo eleitoral engessado da CBF.
Entre as principais demandas dos clubes estão a implantação do fair play financeiro, reformulação do sistema de arbitragem, fortalecimento da Comissão Nacional de Clubes com poderes executivos, e a revisão do processo eleitoral da entidade.
Mesmo com a resistência inicial, os dirigentes acreditam que, com tempo, Samir poderá conquistar a confiança dos clubes.